Felicidade é um conceito subjetivo, quase anárquico
pois não obedece a qualquer regra já que cada pessoa tem a sua própria
definição de felicidade. Pode mesmo ser ambíguo, a felicidade de uns pode ser
infelicidade para outros. No entanto a história do homem desde que é conhecido
como ser racional está definida como uma história de busca incessante da
Felicidade. Todo Homem quer ser feliz e os seus objetivos de vida são marcados
com o intuito de o conseguir.
Mas o que é que nos faz querer encontrar a
Felicidade? Na realidade tudo se resume a ambição de cada pessoa. E que é isso
da ambição? No fundo trata-se do desejo forte por conseguir obter fortuna,
glória, fama ou tudo aquilo que não se tenha até ao momento. Em regra diz-se
que as pessoas com fortes ambições são trabalhadoras, lutadoras, quase
guerreiras e que em casos extremos não olham a meios para atingir os seus fins.
O homem como ser que se encontra na face da terra
há milhares de anos, sempre foi movido pela ambição, e foi essa ambição que fez
o homem e as sociedades e culturas fossem evoluindo, assim podemos dizer que a
evolução é fruto da ambição. Nos últimos milénios a evolução do homem foi sem dúvida
explosiva, culturas como a egípcia, chinesa, grega, romana e algumas mais introduziram
pilares que fizeram as civilizações evoluírem até ao que somos hoje.
Mas porque é que o homem tinha a necessidade de
criar novas teorias e bens, porque tinha necessidade de evoluir, isso faz parte
da ambição de ser feliz, de encontrar o bem-estar de se sentir realizado em
todas as feições da sua vida.
Quer isto dizer que quanto mais ambicioso se for
mais feliz se será ou se atingirá a felicidade de uma maneira mais rápida? A
resposta é de todo negativa. A ambição é positiva para crescer, para querer
algo mais e evoluir, mas não é garantia para obter a felicidade, muito menos se
a ambição for desmesurada, a prova está que ao longo da historia a grande parte
das civilizações que referi anteriormente foram desmembradas e dizimadas pela
ambição interna, em que os seus próprios membros na anciã de poder deixaram de
pensar na felicidade como ato comunitário mas sim como egoísta procurando o seu
EU alimentando invejas e traindo os seus pares.
Por outro lado a mesma ambição desmesurada nos
dias de hoje faz com que as sociedades se esqueçam que vivem em sociedade e dos
princípios e valores do querer e viver pelos outros, trabalha-se em nome do
sucesso, vive-se em correria e azafamas por forma a ter cada vez mais bens
materiais, trabalha-se de sol a sol, e não valorizamos as pessoas, e sobretudo
as famílias, muitas vezes a tal ambição faz com que nem sequer se queira ter família,
não estou aqui a querer julgar isso, nem fazer qualquer julgamento de juízo mas
a constatar que isto é fruto da ambição. Já ouvi por diversas vezes pessoas
dizerem que têm sucesso profissional, têm imensos bens materiais de imenso
valor e que alguns nem sonham poder vir a ter e ao fim dizerem que mesmo assim
não conseguem ser felizes. Ainda assim a sua ambição dita-lhes que se
conseguirem algo mais irão encontrar a felicidade que não têm.
É este apego desmesurado que corrói a nossa
sociedade, cada vez temos mais coisas, mais dinheiro (apesar de hoje em dia e
sobretudo no caso de Portugal vivermos épocas especialmente difíceis por culpa
de (des)governantes que temos e tivemos) e ainda assim nunca estamos
satisfeitos.
A felicidade não está na quantidade de coisas que
temos, nem no estatuto ou poder que obtivemos mas sim no valor que atribuímos as
coisas e sobretudo a VIDA. Lembro-me da história de um “velhinho” que no seu
leito de morte e rodeado pela sua família, esposa, filhos e netos dizia:
“- Não fiqueis tristes por eu partir, durante 40
anos trabalhei para o mesmo patrão, a fazer a mesma coisa, dia após dia, após
isso dediquei-me a tratar dos nossos campos até hoje, não viajei muito, e o que
conheci foi o que a vida me proporcionou, no entanto sinto que tive uma vida
plena, vivi com uma mulher que dedicou a sua vida a trabalhar, e a sua família,
tivemos os nossos filhos que vi crescerem e tornarem-se adultos e pessoas de
bem e trabalhadoras, tenho netos lindos, com o fruto do meu trabalho e da minha
amada esposa nunca vos deixamos passar fome. Não tivemos riquezas, nem grandes
bens, mas sempre que as dificuldades surgiram apoiamo-nos mutuamente e cada
momento que passamos juntos foram momentos únicos, umas vezes rindo, outras
chorando, mas únicos e com aqueles que me amavam incondicionalmente, por isso
agora na hora de partir posso dizer que FUI FELIZ. Fui feliz pela esposa que
tive, e não pelas que não tive, fui feliz pelos filhos que tive, pela vida que
tive enfim fui feliz por cada momento que vivi. Por isso não fiqueis tristes
mas sim felizes pelos momentos únicos e inesquecíveis que me proporcionastes.
Por isso o meu sincero Obrigado!”
Para os mais materialistas podem dizer que este
senhor não tinha ambição na sua vida, mas se lermos com atenção ele foi dos
mais ambiciosos, a ambição dele foi valorizar os momentos que viveu e as
pessoas que amou, tudo isso lhe proporcionou a felicidade, não precisou de
grandes bens, nem de poder, apenas necessitou de se valorizar a si e a vida que
teve.
Então podemos dizer que a felicidade depende da
ambição e por conseguinte provoca a evolução, mas não é a ambição por poder ou
por ter cada vez mais, mas sim ambicionar sentir cada momento com intensidade,
valorizar esses momentos, valorizar o que temos em nossa posse e as pessoas que
temos e que cada dia mostram que nos amam. Se valorizar-mos mais as pessoas que
não temos e os bens que não temos em detrimento daqueles que temos chegaremos
ao fim da vida com a sensação que perdemos o tempo em busca de algo inalcançável,
ou que a felicidade não existe, quando na realidade fomos nós que não soubemos vê-la.
Assim vivam, amem e desfrutem de tudo que os
rodeia, de quem os ama e tudo faz para cada dia para o demonstrar, não tenham
medo de ter mais, mas não sofram se não o obtiverem, ser feliz está em
desfrutar no que se tem. Se forem conscientes disso estarão mais próximos da
felicidade seja qual for a sua definição.
3 comentários:
Uma boa reflexão sobre a felicidade. Gostei muito. O ser humano é naturalmente insatisfeito com a sua vida. No mesmo instante em que fica feliz por conseguir algo por que lutava, fica impaciente por conseguir mais e melhor. E como tu dizes, só com esta ambição de querer sempre mais, se consegue evoluir e crescer em todos os níveis. O problema está na luta interior que criamos, quando "só estamos bem onde não estamos", como canta a célebre música. Somos naturalmente instáveis, naturalmente ambiciosos, naturalmente insatisfeitos, enfim, naturalmente...humanos! E se assim não fosse, como tu referes, ainda viveríamos na era anterior à descoberta do fogo. E nunca o Mundo seria como é hoje. Daí ser muito interessante a relação que fizeste entre Ambição/Evolução/Felicidade. A felicidade é a nossa maior ambição.. Mas a felicidade é algo muito abstrato..A felicidade faz-se de momentos felizes, por mais pequeninos que sejam.. A felicidade como todos a idealizamos não deve existir propriamente, porque na realidade, o que existe são momentos felizes e outros menos felizes.
E como tal, cada dia que nasce é um novo pretexto para lutarmos e lutarmos....
A história é feita de heróis, e cada um de nós, tem que procurar ser um pequeno herói na vida de alguém...
Amigo uma excelente reflexão, da qual concordo plenamente.
As pessoas hoje em dia são demasiado egoísta só pensam na sua própria felicidade, e nessa busca incansável e infrutífera, esquecem-se do que realmente é importante, já não sabem parar, apreciar a vida simples, a família, o companheiro incansável de todas as horas, envelhecer devagarinho ao lado dessa mesma pessoa, as brincadeiras com os filhos, o riso deles tão ingénuo e repleto da verdadeira e simples felicidade, eles crescem tão depressa, mas são sem duvida o nosso maior tesouro! E como já li uma vez José Saramago: “Filho é um ser que Deus nos empresta para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo correctamente e do medo de perder algo tão amado.”
A felicidade não é um estado contínuo são momentos simples de alegria, com aqueles pessoas que fazem já fazem parte da nossa vida, as que estão sempre do nosso lado, mesmo que não seja fisicamente todos os dias, é uma tarde de gargalhadas, um olhar sincero, um silencio cheio de palavras, um abraço apertado, um gosto mesmo de ti,...., são coisas tão pequenas e ao mesmo tempo são todo o mundo quando estamos dispostos aceita-las.
O meu desejo para vos sabes que é toda a felicidade deste mundo, amigos queridos.
Querida susi. Essa é mesmo a minha interpretação. Obrigado pelo comentario. E Ja agora obrigado tambem a navegante da lua.
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