domingo, janeiro 19, 2014

Felicidade, ambição e evolução

Felicidade é um conceito subjetivo, quase anárquico pois não obedece a qualquer regra já que cada pessoa tem a sua própria definição de felicidade. Pode mesmo ser ambíguo, a felicidade de uns pode ser infelicidade para outros. No entanto a história do homem desde que é conhecido como ser racional está definida como uma história de busca incessante da Felicidade. Todo Homem quer ser feliz e os seus objetivos de vida são marcados com o intuito de o conseguir.
Mas o que é que nos faz querer encontrar a Felicidade? Na realidade tudo se resume a ambição de cada pessoa. E que é isso da ambição? No fundo trata-se do desejo forte por conseguir obter fortuna, glória, fama ou tudo aquilo que não se tenha até ao momento. Em regra diz-se que as pessoas com fortes ambições são trabalhadoras, lutadoras, quase guerreiras e que em casos extremos não olham a meios para atingir os seus fins.
O homem como ser que se encontra na face da terra há milhares de anos, sempre foi movido pela ambição, e foi essa ambição que fez o homem e as sociedades e culturas fossem evoluindo, assim podemos dizer que a evolução é fruto da ambição. Nos últimos milénios a evolução do homem foi sem dúvida explosiva, culturas como a egípcia, chinesa, grega, romana e algumas mais introduziram pilares que fizeram as civilizações evoluírem até ao que somos hoje.
Mas porque é que o homem tinha a necessidade de criar novas teorias e bens, porque tinha necessidade de evoluir, isso faz parte da ambição de ser feliz, de encontrar o bem-estar de se sentir realizado em todas as feições da sua vida.
Quer isto dizer que quanto mais ambicioso se for mais feliz se será ou se atingirá a felicidade de uma maneira mais rápida? A resposta é de todo negativa. A ambição é positiva para crescer, para querer algo mais e evoluir, mas não é garantia para obter a felicidade, muito menos se a ambição for desmesurada, a prova está que ao longo da historia a grande parte das civilizações que referi anteriormente foram desmembradas e dizimadas pela ambição interna, em que os seus próprios membros na anciã de poder deixaram de pensar na felicidade como ato comunitário mas sim como egoísta procurando o seu EU alimentando invejas e traindo os seus pares.
Por outro lado a mesma ambição desmesurada nos dias de hoje faz com que as sociedades se esqueçam que vivem em sociedade e dos princípios e valores do querer e viver pelos outros, trabalha-se em nome do sucesso, vive-se em correria e azafamas por forma a ter cada vez mais bens materiais, trabalha-se de sol a sol, e não valorizamos as pessoas, e sobretudo as famílias, muitas vezes a tal ambição faz com que nem sequer se queira ter família, não estou aqui a querer julgar isso, nem fazer qualquer julgamento de juízo mas a constatar que isto é fruto da ambição. Já ouvi por diversas vezes pessoas dizerem que têm sucesso profissional, têm imensos bens materiais de imenso valor e que alguns nem sonham poder vir a ter e ao fim dizerem que mesmo assim não conseguem ser felizes. Ainda assim a sua ambição dita-lhes que se conseguirem algo mais irão encontrar a felicidade que não têm.
É este apego desmesurado que corrói a nossa sociedade, cada vez temos mais coisas, mais dinheiro (apesar de hoje em dia e sobretudo no caso de Portugal vivermos épocas especialmente difíceis por culpa de (des)governantes que temos e tivemos) e ainda assim nunca estamos satisfeitos.
A felicidade não está na quantidade de coisas que temos, nem no estatuto ou poder que obtivemos mas sim no valor que atribuímos as coisas e sobretudo a VIDA. Lembro-me da história de um “velhinho” que no seu leito de morte e rodeado pela sua família, esposa, filhos e netos dizia:
“- Não fiqueis tristes por eu partir, durante 40 anos trabalhei para o mesmo patrão, a fazer a mesma coisa, dia após dia, após isso dediquei-me a tratar dos nossos campos até hoje, não viajei muito, e o que conheci foi o que a vida me proporcionou, no entanto sinto que tive uma vida plena, vivi com uma mulher que dedicou a sua vida a trabalhar, e a sua família, tivemos os nossos filhos que vi crescerem e tornarem-se adultos e pessoas de bem e trabalhadoras, tenho netos lindos, com o fruto do meu trabalho e da minha amada esposa nunca vos deixamos passar fome. Não tivemos riquezas, nem grandes bens, mas sempre que as dificuldades surgiram apoiamo-nos mutuamente e cada momento que passamos juntos foram momentos únicos, umas vezes rindo, outras chorando, mas únicos e com aqueles que me amavam incondicionalmente, por isso agora na hora de partir posso dizer que FUI FELIZ. Fui feliz pela esposa que tive, e não pelas que não tive, fui feliz pelos filhos que tive, pela vida que tive enfim fui feliz por cada momento que vivi. Por isso não fiqueis tristes mas sim felizes pelos momentos únicos e inesquecíveis que me proporcionastes. Por isso o meu sincero Obrigado!”
Para os mais materialistas podem dizer que este senhor não tinha ambição na sua vida, mas se lermos com atenção ele foi dos mais ambiciosos, a ambição dele foi valorizar os momentos que viveu e as pessoas que amou, tudo isso lhe proporcionou a felicidade, não precisou de grandes bens, nem de poder, apenas necessitou de se valorizar a si e a vida que teve.
Então podemos dizer que a felicidade depende da ambição e por conseguinte provoca a evolução, mas não é a ambição por poder ou por ter cada vez mais, mas sim ambicionar sentir cada momento com intensidade, valorizar esses momentos, valorizar o que temos em nossa posse e as pessoas que temos e que cada dia mostram que nos amam. Se valorizar-mos mais as pessoas que não temos e os bens que não temos em detrimento daqueles que temos chegaremos ao fim da vida com a sensação que perdemos o tempo em busca de algo inalcançável, ou que a felicidade não existe, quando na realidade fomos nós que não soubemos vê-la.

Assim vivam, amem e desfrutem de tudo que os rodeia, de quem os ama e tudo faz para cada dia para o demonstrar, não tenham medo de ter mais, mas não sofram se não o obtiverem, ser feliz está em desfrutar no que se tem. Se forem conscientes disso estarão mais próximos da felicidade seja qual for a sua definição.

3 comentários:

Navegante da Lua disse...

Uma boa reflexão sobre a felicidade. Gostei muito. O ser humano é naturalmente insatisfeito com a sua vida. No mesmo instante em que fica feliz por conseguir algo por que lutava, fica impaciente por conseguir mais e melhor. E como tu dizes, só com esta ambição de querer sempre mais, se consegue evoluir e crescer em todos os níveis. O problema está na luta interior que criamos, quando "só estamos bem onde não estamos", como canta a célebre música. Somos naturalmente instáveis, naturalmente ambiciosos, naturalmente insatisfeitos, enfim, naturalmente...humanos! E se assim não fosse, como tu referes, ainda viveríamos na era anterior à descoberta do fogo. E nunca o Mundo seria como é hoje. Daí ser muito interessante a relação que fizeste entre Ambição/Evolução/Felicidade. A felicidade é a nossa maior ambição.. Mas a felicidade é algo muito abstrato..A felicidade faz-se de momentos felizes, por mais pequeninos que sejam.. A felicidade como todos a idealizamos não deve existir propriamente, porque na realidade, o que existe são momentos felizes e outros menos felizes.
E como tal, cada dia que nasce é um novo pretexto para lutarmos e lutarmos....
A história é feita de heróis, e cada um de nós, tem que procurar ser um pequeno herói na vida de alguém...

Susi disse...

Amigo uma excelente reflexão, da qual concordo plenamente.
As pessoas hoje em dia são demasiado egoísta só pensam na sua própria felicidade, e nessa busca incansável e infrutífera, esquecem-se do que realmente é importante, já não sabem parar, apreciar a vida simples, a família, o companheiro incansável de todas as horas, envelhecer devagarinho ao lado dessa mesma pessoa, as brincadeiras com os filhos, o riso deles tão ingénuo e repleto da verdadeira e simples felicidade, eles crescem tão depressa, mas são sem duvida o nosso maior tesouro! E como já li uma vez José Saramago: “Filho é um ser que Deus nos empresta para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo correctamente e do medo de perder algo tão amado.”
A felicidade não é um estado contínuo são momentos simples de alegria, com aqueles pessoas que fazem já fazem parte da nossa vida, as que estão sempre do nosso lado, mesmo que não seja fisicamente todos os dias, é uma tarde de gargalhadas, um olhar sincero, um silencio cheio de palavras, um abraço apertado, um gosto mesmo de ti,...., são coisas tão pequenas e ao mesmo tempo são todo o mundo quando estamos dispostos aceita-las.
O meu desejo para vos sabes que é toda a felicidade deste mundo, amigos queridos.

AdoMarrocos disse...

Querida susi. Essa é mesmo a minha interpretação. Obrigado pelo comentario. E Ja agora obrigado tambem a navegante da lua.